Consta que Artacho Jurado (1907-1983) amava a ópera e os charutos e seguia madrugada adentro em seu apartamento no Edifício Piauí – o primeiro que ergueu no bairro de Higienópolis – olhando a vista sobre a cidade e desenhando plantas, cobogós, gradis de guarda-corpos, rampas e marquises dos prédios que logo construiria.
Nascido no bairro do Brás, em São Paulo, em 1907, o filho de imigrantes espanhóis começou a sua carreira como letrista de cartazes, estandartes, feiras e exposições, na década de 1920, mas se tornou conhecido mesmo como o criador de prédios coloridos e cheios de áreas comuns que construiu a partir dos anos 1950 e que ainda hoje se fazem notar na paisagem urbana. Não tinha diploma de arquiteto, e o sucesso comercial de seus empreendimentos fazia muitos profissionais da época torcerem o nariz.
"A modernidade encantava Artacho, ainda que os arquitetos modernos não o vissem como alguém que faz parte do clube. Ele não parecia se importar", escreve Raul Juste Lores em seu livro "São Paulo nas Alturas" (Companhia das Letras). "À austeridade dos modernistas influenciados pela Bauhaus ou pelo calvinista Le Corbusier, Artacho contrapôs suas cores vibrantes e uma abundância de ornamentos, de arabescos a cobogós."
Um bocado dessa história está contada na Ocupação Artacho Jurado, exposição em cartaz até setembro no Itaú Cultural, com cerca de 130 peças – fotografias, vídeos, desenhos, maquetes e o acervo pessoal da família Jurado. A convite do Orbit, a pesquisadora Jéssica Varrichio, curadora da Ocupação ao lado de Guilherme Giufrida, revela curiosidades sobre cinco dos projetos mais emblemáticos do arquiteto na capital:
1. Edifício Louvre
“Foi construído entre 1952 e 1967, época em que a Praça da República era o centro intelectual e artístico da cidade. O MAM e o MASP tinham as suas sedes na Rua 7 de abril. Especulamos que Artacho queria fazer parte desse corredor das artes e nomeou os quatro blocos da frente com nomes importantes da História da Arte: Da Vinci, Rembrandt, Renoir e Velázquez, com reproduções de obras em cada hall de entrada. Os cinco blocos do fundo são Pedro Américo. Artacho previu inclusive uma galeria de arte no projeto original para o edifício”
2. Edifício Bretagne
“É o ápice da criação artachiana. É o modelo que ele gostaria de ter aplicado pra todos os seus prédios. O edifício é o que mais tem áreas de sociabilidade: piscina, salão de chá, sala de música, bar, playground infantil com decoração da Alice no País das Maravilhas e cobertura comum. Inspirado pelas inaugurações das feiras industriais onde começou sua carreira, Artacho fazia grandes celebrações para as inaugurações dos prédios. O Bretagne teve corte de fita, fanfarra, apresentação de dança do ventre e da escola de ballet de Higienópolis ao redor da piscina e presença de celebridades com a Miss América. Angeli morava no Bretagne na época em que ele criou a Rê Bordosa, possivelmente a banheira em que a personagem passa boa parte do seu tempo é a banheira do Bretagne com os azulejos icônicos de Artacho.”
3. Parque das Hortênsias
“Artacho foi muito criticado pela arquitetura paulista, pautada pelos princípios modernistas e brutalistas. Sua ousadia construtiva fica muito em evidência no projeto do Parque das Hortênsias, ao invés de se intimidar pela crítica, Artacho incorpora desenhos dos modernistas que ele admirava: ele era um entusiasta da Igreja da Pampulha projetada por Niemeyer, na cobertura do Parque das Hortênsias ele desenhou uma mini pampulha decorativa. Ele também incorporou marquises e no Bretagne utilizou colunas em V como Niemeyer usou em projetos como o Edifício Galeria Califórnia.”
4. Edifício Piauí
“Foi um dos primeiros prédios construídos pelo arquiteto, e onde ele teve o primeiro apartamento em uma das suas criações. É aqui que Artacho tem o escritório onde ele desenhou a maioria dos seus edifícios mais icônicos. Janela é um elemento central pra Artacho, um símbolo de conforto para ele era que os moradores dos seus prédios pudessem sentar em uma poltrona e ter uma boa vista da cidade, suas mesas sempre estavam em relação a uma janela. É um projeto bastante pessoal, além das vistas de Higienópolis inspirarem as suas criações, o salão de festas do prédio foi onde a filha única de Artacho, DIva Jurado, escolheu para celebrar a sua festa de casamento.”
5. Edifício Viadutos
“Em uma das celebrações de Artacho, ele encomendou um bolo com o formato do Edifício Viadutos: um bolo com andares, pilotis, com a famosa cobertura envidraçada envolvido por muito chantilly. Essa foto é central na Ocupaçāo Artacho Jurado —uma síntese do seu espiríto criativo, jocoso, livre e maximalista. O Viadutos é um dos primeiros edifícios quarteirāo de Artacho. Sua extensa área construída e altura possibilitaram que ele implementasse outdoors publicitários na cobertura, iniciativa que cobria todos os custos do condomínio.”
As porções de sobrecoxa desossada podem vir sem molho ou pinceladas no molho apimentado tradicional coreano.
Macarrão da casa estilo hosomen, caldo claro de frango e porco com molho shoyu, copa lombo, naruto feito na casa, ovo inteiro marinado, menma, cebolinha, alga nori e pimenta do reino.
Doce japonês feito de moti (massa de arroz glutinoso) com um morango e um recheio. Disponível nos sabores anko (doce de feijão), matcha, ninho, chocolate, sakura (cereja) e melão.
Pastel Indiano recheado com uma mistura condimentada de batata, ervilha, caju, uva passa, ervas e especiarias.
Panceta cozida em baixa temperatura servido com pepino e coentro.
Um pão no vapor com recheio de copa glaceada e molho de ostras.
Bolinho doce em formato de peixe recheado. O mais tradicional é com recheio de anko (doce de feijão).
Melon Pan é um pãozinho japonês, no formato de um melão, bem fofinho. Esse vem com crosta de biscoito de chocolate açucarado por cima e recheio com ganache de chocolate meio amargo.
Costela de boi angus desfiada, finalizada na Wok. Acompanha Gohan e gema curada.
Enrolado coreano com ovo, pepino em conserva, takuwan (nabo em conserva), cenoura e salsicha.
Cerveja tipo Lager, com lúpulo japonês Sorachi Ace, em homenagem ao personagem que foi um dos precursores das séries japonesas, nos anos 90.
Café extraído à frio, por mais de 8h horas. Proporciona uma bebida com mais doçura, corpo licoroso e redução de amargor, uma ótima opção para dias quentes.
Exposição dedicada à vida e obra de Artacho Jurado, que mesmo sem ter formação como arquiteto ou engenheiro, ergueu edifícios que se tornaram ícones de São Paulo. Na contramão dos traços racionalistas da arquitetura moderna, Artacho se tornou uma espécie de aquarelista da cidade, com projetos que destacavam elementos ornamentais e decorativos, cores vibrantes e espaços de convivência que perduram até hoje. A mostra traz cerca de 130 peças, entre imagens, fotografias, vídeos, desenhos originais, publicidade de época, uma maquete e o acervo pessoal da família Jurado – além de recursos acessíveis – que permitem ao público conhecer a fundo a vida e obra deste empreendedor, que ajudou a desenhar a paisagem urbana. A exposição tem curadoria do antropólogo e pesquisador Guilherme Giufrida, ao lado da arquiteta e curadora Jéssica Varrichio.
