Mais do que celebrar as relações entre Brasil e França, este programa oferece um panorama da música coral francesa ao longo de pouco mais de cem anos. Do ocaso do Romantismo à chegada do Modernismo, e da esperança no século XX, passando pelas incertezas e destruição das Grandes Guerras, as ilusões, tensões, frustrações e tentativas de ressignificação do mundo se refletem na produção musical desse período.Jean-Yves Daniel-Lesur (1908-2002) foi um dos fundadores, em 1936, do grupo La Jeune France, cujo objetivo principal era escrever uma música mais humana, próxima do público e menos abstrata. Le Jardin Clos integra Cantique des Cantiques (1952), principal obra do compositor.Embora tenha falecido muito jovem, Lili Boulanger (1893-1918) deixou importante contribuição como compositora. Sous Bois (1911), para coro misto e piano, sugere uma atmosfera naïf e nostálgica, que contrasta com as tensões políticas e sociais que se evidenciavam no período e que conduziriam o mundo à Primeira Guerra Mundial.Aluno de Nadia Boulanger, irmã de Lili, Jean Françaix (1912-1997) escreveu obras equilibradas, claras, bemhumoradas e, por vezes, satíricas. Em Trois Poèmes de Paul Valéry (1982), Françaix evidencia as aliterações, assonâncias e todos os ricos detalhes dos textos do poeta, ao mesmo tempo que mantém o seu estilo composicional.Em Choeur des Elfes (1899), Pauline Viardot (1821-1910) mostra sua faceta menos conhecida: a de compositora. Cantora e pianista de ascendência espanhola, Viardot nasceu em uma família de músicos – sua irmã, Maria Malibran, é uma das maiores divas da história da ópera. Viardot enfrentou corajosamente os ditames da época, mantendo sua atividade como musicista após o casamento.A obra de Claude Debussy (1862-1918), que inaugurou a música moderna nos últimos anos do século XIX, é apresentada em dois momentos: Trois Chansons de Charles d’Orléans (1898), sua única composição para coro a cappella, mostra o compositor já em sua fase modernista; e a versão para coro de Beau Soir (1891), canção contemplativa sobre poema de Paul Bourget, traz um Debussy que ainda caminhava em direção ao século XX.Francis Poulenc (1899-1963), integrante do Les Six – importante movimento da vanguarda francesa no entreguerras –, constitui em Sept Chansons (1936) sua maior obra para coro misto e uma das mais importantes de sua produção.Nessa série, o compositor resgata elementos da escrita de Léonin, Pérotin, Machaut, Josquin des Prez e Monteverdi combinados a técnicas de composição observadas em Debussy, Ravel e Stravinsky.Obra mais antiga do programa, Les Djinns (1876) é uma das poucas composições corais escritas por Gabriel Fauré (1845-1924) a partir de texto profano. Foi Fauré, aliás, quem realizou a transição do século XIX para o XX na música francesa, abrindo caminho para os modernistas Debussy, Ravel, Poulenc e todos aqueles que os sucederam.